Ultrapassar o Medo.
- 12 Maio 2022
- Plus Health
O que faríamos se não tivéssemos medo? Como seria a nossa vida? O que deixamos de fazer ou renunciamos por medo? Como lidamos e queremos aprender a lidar com o nosso medo?
Estas reflexões conduzem à nossa responsabilidade perante a vida que decidimos viver, ainda que de forma inconsciente. Todavia, o mais comum é atribuirmos ao exterior a causa de toda a nossa frustração, insatisfação ou infelicidade e esquecermos de que o único motor da verdadeira mudança reside em nós próprios. E isto acontece porque somos educados, desde cedo, através da emoção medo. Aliás, é o medo que nos move muito mais do que o amor: somos constantemente condicionados pelo medo, pois interiorizamos este padrão de funcionamento em criança e continuamos a usá-lo já em adulto de forma automática, o que é contraproducente para uma vida mais funcional e de qualidade.
Não obstante, o medo é uma emoção básica do ser humano, que foi evoluindo filogeneticamente através das espécies, dada a sua importantíssima função de sobrevivência. É, por isso, uma emoção adaptativa e útil para a nossa proteção e sobrevivência, uma vez que permite antecipar, prever e superar as situações consideradas ameaçadoras, desenvolvendo um estado de alerta e de vigília, que se revela essencial para a evolução e perpetuação da espécie. Ora isso significa que o nosso cérebro processa mais facilmente e interpreta mais rapidamente as situações como ameaçadoras, mesmo quando não o são na realidade, o que pode conduzir a frequentes estados de ansiedade, preocupação e angústia. Isto é, a interpretação constante do exterior como um perigo e a perceção de que não somos capazes de enfrentar tal perigo, origina então o medo, o pessimismo, a preocupação, o desânimo, a ansiedade...
Obviamente que todos os seres humanos têm e terão medos e o objetivo não pode ser deixar de os ter, porque eles vão existir sempre, por isso, a chave reside na nossa capacidade para gerirmos ou controlarmos os nossos medos, ao invés de nos deixarmos dominar por eles. Este é o nosso triunfo: aprender a controlar e a dominar os medos. No entanto, o que acontece, maioritariamente, é que procuramos a todo o custo “fugir” dos nossos medos, uma vez que geram emoções e sensações muito desagradáveis que evitamos sentir. Todavia, quanto mais os evitamos mais eles crescem e nos aprisionam.
Assim, o medo converte-se numa emoção tóxica, negativa e destrutiva, quando se torna irracional, excessiva, intensa e duradoura, bloqueando as nossas capacidades cognitivas e funcionais, sendo então necessário controlar esse medo. Para tal, é preciso aprender a identificar esta emoção básica, conhecer as suas distintas manifestações, em função da intensidade e dos comportamentos associados, para, assim, conseguir gerir o medo que nos limita. E este facto revela-se imprescindível, dado que viver constantemente num medo tóxico acarreta severas consequências para a nossa saúde física, mental e relacional.
Como diz John Ford: “Se acreditas que podes, podes; se acreditas que não podes, não podes”!
Por conseguinte, este medo constante pode interferir na nossa capacidade de crescimento pessoal e profissional, obstando, consequentemente, a construção da nossa autoestima e autoconfiança, uma vez que reforça a crença de que não dispomos de recursos suficientes para gerir a nossa própria vida. De igual modo, o medo tóxico pode gerar tensão emocional e prejudicar os relacionamentos interpessoais, podendo induzir ao isolamento, para além de afetar negativamente a saúde física, contribuindo para o envelhecimento e para o desenvolvimento de doenças.
Normalmente, o medo “desperta-se” de forma automática no nosso organismo, pois, quando percecionamos determinadas situações como ameaçadoras, mente e corpo acionam mecanismos para nos protegerem, que podem arrebatar-nos emocionalmente se o nosso diálogo interno está rigidamente focado numa leitura ameaçadora das nossas vivências. Pelo que, tomar conhecimento deste facto permitirá ampliar as perspetivas e obter novas possibilidades, até porque os medos que não gerimos ou dominamos vão sempre moldar a nossa vida, ainda que não tenhamos consciência disso ou que tentemos negar essa emoção.
Posto isto: Como podemos gerir as nossas emoções?
É certo que, só conhecendo os nossos pensamentos limitadores conseguiremos aceder ao controlo das nossas emoções igualmente limitadoras, uma vez que as emoções surgem de forma automática e inconsciente e são os pensamentos que se “encarregam” que elas permaneçam ativas e condicionem as nossas decisões, respostas e ações. Consequentemente, para gerir uma emoção é necessário conhecer primeiro os pensamentos que a sustentam, ou seja, conhecer as crenças e convicções pessoais que apoiam os nossos hábitos de atuação, de modo a modificar tais padrões de pensamento e a conceber emoções mais ajustadas que estimulem, então, comportamentos alternativos. Efetivamente, só tomando consciência dos pensamentos que estão por detrás da nossa forma de atuar no quotidiano, identificando os nossos medos e deixando de os esconder ou evitar, é que desenvolveremos a capacidade de os controlar e gerir.
Assim sendo, os medos podem paralisar-nos, nomeadamente o medo de errar, o medo de não sermos bem sucedidos, de podermos ser criticados ou rejeitados e ainda o medo de não conseguirmos lidar, consequentemente, com sentimentos tão intensos, como a culpa, o arrependimento e a frustração. Todavia, qual é o sentimento que nos acompanha diariamente quando nem sequer nos permitimos tentar e nos auto- sabotamos? Qual é o custo que estamos dispostos a pagar pelo medo de sentir medo???
Posto isto, é de tamanha importância uma real tomada de consciência acerca dos nossos medos e da forma como poderão estar a condicionar o nosso percurso de vida, a fim de podermos contorná-los e alcançar uma maior qualidade de vida. Daí que ter a capacidade de enfrentar os medos, de correr atrás dos nossos propósitos e persistir perante os obstáculos, seja um desafio enorme, mas, também, uma fonte de sabedoria e de felicidade plenas.
É, por isso, crucial interromper e suprimir o ciclo do medo de Pensamento-Emoção-Ação!!
E a Psicoterapia constitui, assim, o antídoto deste medo, possibilitando o “desaprender” de um padrão tóxico, através da identificação, do reconhecimento, da compreensão e da gestão das emoções, de modo a sermos mais capazes de regular e controlar as nossas emoções e, consequentemente, a nossa vida!