A Perda Gestacional: Luto Parental
- 11 Julho 2022
- Plus Health
A perda de um filho é considerada como uma das experiências mais traumáticas que o ser humano pode vivenciar, independentemente da sua natureza, como por exemplo, perda gestacional ou perda numa fase mais tardia da vida. (Gabriel, Paulino & Baptista, 2021). Juntamente com esta perda, que é considerada como uma perda contranatura, surgem emoções como zanga, pensamentos de autorresponsabilidade e também comportamentos como isolamento social.
De acordo com Arnold e Gemma (2008) o luto parental é um processo intenso, complexo e de longa duração, devido á sua natureza incompreensível e devastadora da perda. Importa salientar que durante este processo de perda surgem também perdas secundárias, como, a perda das expectativas para o futuro e desafios; gestão das mudanças vivenciadas no papel parental ena própria identidade e na relação conjugal.
O conceito de perda gestacional engloba um conjunto de situações de perda que podem ocorrer ao longo da gestação ou após o parto: aborto espontâneo; morte fetal; morte neonatal; interrupção médica da gravidez (ex. anomalias congénitas) e interrupção voluntária da gravidez (Health Agency of Canada, 2000). O aborto espontâneo é uma perda que ocorre dentro do útero, antes de atingidas as 20 semanas de gestação; a morte fetal é uma perda que ocorre após as 20 semanas de gestação e que pode ocorrer dentro do útero ou durante o parto, normalmente os bebés são denominados nados-mortos (Obst et al., 2020). As mortes neonatais correspondem à morte de crianças, que apesar de terem nascido com vida, morreram com menos de 28 dias de idade.
A perda gestacional é uma experiência traumatizante que contém um risco elevado de desencadear sintomatologia psicopatológica, como sintomas de depressão e ansiedade contendo também o risco de um luto prolongado (Kersting & Wagner, 2012; Fernández-Alcántara & Zech, 2017; Hunter et al., 2017; Kokou- Kpolou et al., 2018; Mcdonald et al., 2019; Gabriel, Paulino & Baptista, 2021).
Desde o momento que os pais sabem que vão ter um bebé que se começa a criar uma vinculação com o filho desejado, existindo uma perda súbita e imprevista existe também a quebra violenta da relação vinculativa que se tinha vindo a criar até então. Porém, a sociedade não valoriza estas perdas e tende a silenciar e também a minimizar o sofrimento da mulher, não valorizando a necessidade de se realizar um luto pelo filho que se perdeu.
É de extrema importância referir que a relação com o filho imaginado começa a ser construída antes do seu nascimento, pois “um bebé não nasce após nove meses de gravidez, mas quando nasce na imaginação dos pais” (Sá & Biscaia, 2004).
Existem variadas diferenças entre um luto de um filho e o luto de uma perda gestacional, um mãe e pai que perderam o seu filho depois de conviverem com ele 30 anos sentem saudade do filho que existiu, porém, as mães e pais que perderam os seus bebés, não sentem a saudade do que viveram mas sim a saudade do que não viveram com aquele filho desejado. Junto com a perda deste bebé também existe a perda dos sonhos, das expectativas e das projeções pessoais e familiares. Importa referir, que o corpo da mulher se transformou para um bebé que não chegou.
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